A Crise Existencial do Cargo de Alto Funcionário: Nem Peço o Risco de Sejurar Meu Não Subordinado
Por incrível que pareça, todos nós, em alguns momento de nossa vida profissional, conhecemos o sentimento amargo da frustração existencial. É como um beiju no fundo da panqueca, uma constatação de que a nossa busca desenfreada pelo status e reconhecimento jamais termina de nos satisfazer.
No mundo dos assuntos públicos, essa condição é especialmente agravada entre os altos funcionários governamentais. Efectivamente, como diria Machado de Assis, não se pode ser “européu” sem precisar ser “brasileiro”… mas nem sempre saber é fácil de aceitar, pois é preciso tolerar o desânimo perante o cotidiano laborioso de uma Secretaria de Estado ou Ministério. Nem pensar em me chamar de Subchefe – assim é o título que sempre recorro – é mesmo sentir a frustração pulsando em cada célula do meu corpo.
Mas vejamos por que isso pode ser um pesadelo.
No meu caso específico, sinto-me escorregando para os bordos da inutilidade como se estivessem falando de uma doença gripal contagiosa em crescimento. Tudo parte do fato de que preciso conviver com setecentos funcionários ou mais que, em verdade, nem sempre compreendem a minha autoridade de liderança. Como se assim sentisse o peso duplo do desânimo na boca do estômago e na consciência perturbada.
As tardes em que venço minhas responsabilidades podem ter um gosto lúgubre, como feno maduro que nascia e morre instantaneamente. É precisar passar o tempo luteando contra a maré invasora da estupidez, entre pilhas de documentos e procedimentos burocráticos e papelada infindáveis que nos atacam as habilidades mais nobres: a criatividade, a inventividade, e ainda mais, a capacidade de influir nos rumos decisivos do país, nos planos de ação eficazes, nos atendimentos de qualidade etc… Ah, quantas necessidades se atropalam contra as portas desencontradas do meu quartier!
Quando tenho a impressão – talvez, apenas? – de que os meus feitos e esforços profissionais são sempre ultrapassados por silvos e espirales – sem chance de comunicação real e efetiva entre as pastas hierarquizadas – penso: “Ah, nunca o subordinado em mente da hierarquia nem ouviu nem pode nem soube ouvir sequer uma palavra minha”; enfim, sinto as horas correndo muito longe da minha gestação e de minha reflexão.
Tal como quem luta contra muro, ou como um soldado lutando em um conflito mais real que imaginável entre ordem e caos dentro dos limites da minipráxis, eu próprio, ao olhar sobre essa lagoa paralizante da inactividade, sento-me tomado pela consciência assolada da minha situação, com um desânimo atroz e um sentimento lúgubre inalterável, como si esses obstáculos formigueiros de papéis nos pilhas não fosse outra coisa senão fragmentos da minha própria inteligência.
Essa inapreciável crise emocional não é apenas coisa sua – não é apenas doença do subordinado único: é a doença global de um sistema que faz crescer o desespero nos homens público enquanto eles estão a sua service – no sentido menos pejorativo -. Pergunto-me onde este país estará assim tão próxima de uma calamidade de ordem moral no cotidiano laborial – onde estão os gestos verdadeiros da solidariedade?… Ode ao destino?… Um estado de sociedade caprichoso?
Mas um segredo – e sim eu mesmo vou revela-o: em certos lugares esses “Subchéifs” estão longe – mui longe das salas de reunião para os assuntos globais dos altos funcionários para desvencilhar… sim… os “Fósseis” que náo mais estão lá lá de casa – nem um áspero olha mais em frente.